1. |
Mini-dilúvio
02:59
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Gota a gota que dana a jangada que tomba na boca da morte (a manhã é flor da noite) a cantiga do vento o silêncio do fim do mundo
– Cadê vocês, meus irmãos?
Boca a boca da noite a cantiga da gota um silêncio danado (a jangada é flor ao vento) a mortalha do dia e o tombo no fim do mundo
– Cadê vocês, meus irmãos?
Sem nenhum argonauta
Passa ao largo do temporal
Um navio de carga
Corroído de sal
No oceano cobalto
Alto mar que não é azul
Um navio fantasma
Iceberg do sul
Noite a noite a cantiga e o tombo danado da mortal jangada (o silêncio flor da boca) e um vento da gota e o dia do fim do mundo
– Cadê vocês, meus irmãos?
(a palavra flor da nota) o fim do mundo
– Cadê vocês, meus irmãos?
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2. |
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Depois quando eu morrer
Eu quero morar
No tronco de um baobá
E nesse baobá
Eu quero viver
Que nem na barriga um bebê
Depois quando eu nascer
Eu quero mamar
O sumo do baobá
E desse baobá
Eu quero saber
O gozo de nunca morrer
Nasceu o sol
Tem um baobá ao sol
O pé tá no céu
Baobá deitou raiz no céu
Eu sei quem sou
Sei que baobá eu sou
Sei bem, ele é eu
Sol a sol – um baobá e eu
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3. |
Retrato de proletária
02:56
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Pedra vestida de neve
guarda segredos de nuvem
Árvore beira de estrada
planta seu fruto na rua
Água parada que escorre
num rosto talhado de guelras
Chego em casa pra trabalhar
tem que arrumar as coisas
fazer o jantar e depois
passar a roupa do homem
que tem que descansar
Trabalhar para trabalhar
acordar para trabalhar até dormir
quem sabe um sonho bom
possa aliviar
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4. |
Igbadu
04:27
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Onissabedor
Dai-nos conhecer vosso axé
Todo amor é um
Tudo no balaio de Olorum
Céu de Obatalá
Ali há de dar todo chão
Chão de Oduduá
Ali há de dar todo céu
Pai de todo axé
Dai-nos vosso amor, oh minha mãe
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5. |
Ajambrada
02:19
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Palavra não esgota
Há muitas:
Esta por exemplo
E outras
E andam juntas
Enjambradacopladas
Tontas
E lá pelas tantas
O que as imanta
Vira estrutura
Cerze a loucura
Costura a música
De cada palavra dita
Assim dá-se a letra
Que o engenheiro prepara
Mas ele não para e fabrica
Na pedra da melodia
Palavras à revelia
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6. |
Conversa com uma gambá
02:07
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Vivo humilde pelos trilhos
Do que vejo pela frente
Gambá sou, pouco ilumino
Lento farejo o farelo
Que me é dado no caminho
Desejo apenas na vida
Acertar o alvo fino
De morrer depois dos pais
De morrer antes dos filhos
Vem o vento na janela
Bate até que me adivinha
A lua faz sentinela
Desse meu corpo deitado
Tão puído que esfarela
Eu peço apenas à noite
O mistério de um poema
Que ilumine alguma dor
E evapore no sereno
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7. |
Lua verde
02:39
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Lua lua verde
Vasto é meu quintal
Vento vida breve
Lua verde
Verde demais
O meu sono chega
Logo se desfaz
Um menino chora
Lua verde
Breve demais
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8. |
73 de janeiro
03:29
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Salve, ó mancha na alma
Fulge menor que o amor
Todos em pé diante da deusa
Fulge maior que o medo
Vamos em frente
Não tem mais jeito
Dia que nasce
No meio da noite
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9. |
Robalo nenhum
02:00
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Uma correnteza no abismo
Na memória, no futuro
Um silêncio de manguezal, ê!
Sono de jangada
Escuto vozes de baleia na cabeça
Mariscar a própria cabeça
Um lamento de quem quase
Nunca chora
Não se entrega à toa
Mas não apavore o menino
Ele mora lá no fim da vida
A raposa disse nada, disse
Nunca vou lhe dar um abraço
Mas não tem problema
Eu te amo
Vou pescando pelo abismo azul
Do manguezal
Amor é o que há
Vóglio a minha donna
Vóglio a minha donna
Vóglio a minha donna
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10. |
Concerto campestre
02:54
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Tão remota situação campestre desanuviando
a moça pelada no sonho
Tão suave cacofonia de ovelha escreve sua carta
ao rio no meio do céu
Minhas perguntas são tantas
Minhas perguntas são poucas
Moça que guarda nos seios o mar
Vou voltando à terra e a visão da moça vai sumindo
Vai sumindo
Vai sumindo
Vai sumindo
Moça que guarda nos seios o mar
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11. |
Bodocó
01:54
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vó
goró
dó
xodó
forró
curió
Jó
nó
carijó
efó
jiló
guaraná-timbó
maior
céu infinito
paralelo à caatinga
nuvens escorrem
no grande vidro do ar
morrer dormir
talvez cantar
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12. |
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Canto p’o canto dizê
Que tanto que tem p’a cantá
Vento cabô de batê
Momento cabô de durá
Canto que fala do quê
Que tanto num qué me contá?
Tudo pode acontecê
Contudo já tá p’a acabá
Canto que diz olerê
Enquanto eu entendo olará
Para de me remoê
Tu vira essa boca p’a lá
Dom
Condão
Adivinhar
O som
Missão
Alumiar
O véu
O vão
U’a cantiga
Eu
Eu não
A voz amiga
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Sylvio Fraga Rio De Janeiro, Brazil
Composer, producer, singer, and poet, Sylvio Fraga has launched the albums Rosto (Face), Cigarra no trovão (Grasshopper in
the Thunder), Canção da cabra (Song of the Goat) and Robalo nenhum (No Seabass).
Founder and artistic director of the Rocinante recording company, he co-produced Síntese do lance by Jards Macalé and João Donato and Erika Ribeiro, nominated for the Latin Grammy 2022.
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